terça-feira, 11 de outubro de 2011

O "lado B" do Dia das Crianças

Ao chegar o décimo segundo dia do mês de outubro, a sociedade e o comércio brasileiro comemoram o esperado dia das crianças, sendo este desfrutado a partir das regalias dadas pela conjunta celebração com a senhora Aparecida. O momento é de alegria e festa para muitos, e seria muito fácil fechar os olhos e desejar um feliz dia das crianças para todos esses minúsculos seres. Porém, a realidade é outra e não podemos deixar de abordar um aspecto que insiste rondar e atormentar a qualidade de vida de todos nós, cidadãos.
Ao compararmos os aspectos comportamentais das crianças de apenas duas décadas atrás com as de hoje notamos nitidamente uma forte mudança - no modo de falar, pensar e agir. Mas quais os fatores que levaram a essa tão brusca mudança? Poderíamos citar aqui milhões deles, mas a exploração do trabalho infantil é um dos mais crueis aspectos, e por vezes é inerente à vida de muitas crianças do país.
Trabalho infantil é crime e todos já estão cansados de ouvir e saber disso. No artigo 227 da Constituição de 1988 que tem como base a Declaração Universal dos Direitos das Crianças (1959), estão garantidos - pelo menos teoricamente - condições humanas para se viver:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1998, p. 116).

Porém, segundo dados apurados em 2009 pelo PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), 4,3 milhões de crianças entre 5 e 17 anos estavam trabalhando de forma exploratória no Brasil. Outro dado muito relevante levantado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em abril deste ano, demonstra e comprova a triste realidade de crianças brasileiras entre 10 e 14 anos, onde cerca de 132 mil delas são chefes de família. Ou seja, são obrigadas a trabalhar desde cedo para se autosustentar e sustentar seus familiares. O nordeste encabeça essa estatística com 11,7% (esta porcentagem significa que metade das crianças da faixa etária descrita trabalham).
 Como consequência deste amadurecimento precoce, há uma ruptura no processo do ciclo de vida da criança, fazendo com que esta pule etapas importantes para seu desenvolvimento, tornando-a, dentre muitos outros malefícios, despreparada para competir igualitariamente no cenário mercadológico vigente.
Apresentando dados como estes, como se pode chegar para estes tantos chefes de família de 13 anos - que deveriam estar na escola aprendendo e brincando com amigos - e apenas lhe desejar um feliz dia das crianças, se nem ao menos crianças eles podem ser? A criação e uma eficiente fiscalização das políticas sociais públicas voltadas para estes atores miris são de fundamental importância para um futuro digno, não só brasileiro, mas global. Quem sabe assim algum dia todos poderemos ter motivos para celebrar este momento.

Abraços.

3 comentários:

  1. Muito bem frisado: é responsabilidade da família, sociedade e Estado! O problema é: a família é normalmente desestruturada. O negligencia completamente o trabalho infantil e a sociedade não se escandaliza mais com algo tão alarmante. Precisamos mudar nosso modo ver as coisas. Nesse mundo ninguem é melhor que ninguem. E essas crianças merecem tanto quanto qualquer outra desfrutar deste dia tão simbólico e tão representativo para elas.

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  2. Muito bom o post Dalton! Concordo plenamente com você! E também com Cássio, principalmente quando ele diz que a sociedade parou de se escandalizar com coisas sérias e alarmantes. Fico perplexa ao ver que as pessoas cada vez mais vêem esse tipo de coisa como: "Ahh, mas não é meu filho, nem conhecido, então vou me preocupar porque né?" Gente pode ser assim não! Ainda mais quando a gente sabe que essa galerinha que ta sendo chefe de família tão cedo será o adulto de amanhã e ai o que vai ser do país e do mundo no caminho que vai? Que valores (muitas vezes distorcidos)se passa para as próximas crianças?

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  3. A exacerbação da competitivadade no mercado acarreta num baixo nível de altruísmo das pessoas na sociedade, fazendo com que essa situação não só se perpetue, mas fique cada vez ainda maior as discrepâncias sociais entre as pessoas. Como bem frisado por Cássio e Silmara, a responsabilidade não é só de uma pessoa, mas sim de um conjunto delas - família, sociedade, Estado. Se alguma parte desse "tripé" não tiver um papel efetivo na formação da vida da criança, esta infelizmente não usufruirá plenamente da vida.

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